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Fawlty Towers: Check-in no hotel da comédia

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O texto que se segue NÃO contém SPOILERS

Vista cerca de 40 anos mais tarde com óculos de Brexit.

2016 tem sido o ano para me aventurar em clássicos da comédia, nomeadamente de origem britânica. Depois de ver na íntegra as hilariantes ‘Allo ‘Allo! e Black Adder, recuei ainda mais no tempo para Fawlty Towers. Apenas doze episódios dispostos por duas temporadas exibidas entre 1975 e 79. Série bastante curta que facilmente se encaixa no calendário de qualquer um que não rejeite os produtos televisivos mais datados. Se quiserem deixar-se levar por vozes um tanto ou quanto mais audíveis, ficam a saber que no ano 2000 o British Film Institute elegeu “Fawlty Towers” como a melhor série britânica de sempre.

Para quem ainda não conhece, de que se trata “Fawlty Towers”? Salvo duas breves cenas que fugiram à regra, a sitcom decorre unicamente no interior do hotel que rouba o título da série. Um quebrar de formato sempre interessante que rejeita facilitismos exteriores, dando primordial atenção ao que realmente interessa. O dono do hotel que encabeça o elenco é não outro que o grande John Cleese, membro dos Monty Python. Assume uma personagem que ressente o facto de não se inserir na classe alta. As suas atitudes perante os hóspedes relembram-nos constantemente de tamanho desgosto. Basil Fawlty descrimina os hóspedes mais brejeiros e libertinos. Pelo contrário, alguém que ostente o título de “Doutor” irá imediatamente receber a sua total servidão.

Acaba por não ter grandes dizeres no gerir do hotel, sendo constantemente abafado pela sua esposa soberana. Ao contrário de si, a mulher adapta-se às situações e não receia ter de se subjugar aos hóspedes mais exigentes. E que química se vive no seio deste casal. Não formulem de imediato uma imagem amorosa. Muito pelo contrário, o à-vontade vivido entre os dois actores transmite uma relação já bastante deteriorada. Há violência doméstica dela para ele. E muito do humor físico vive disso. Prunella Scales entrega uma prestação cómica bastante genuína.

A este casal desgastado acrescentam-se duas outras personagens em patamar de importância inferior. A camareira Polly, cuja actriz co-criou a série em parceria com John Cleese e era na altura mulher do actor. Artista frustrada que tenta inúmeras vezes vender um dos seus quadros a hóspedes desinteressados. O empregado de mesa Manuel (Andrew Sachs), imigrante espanhol fisicamente maltratado pelo chefe.

He’s from Barcelona.

Uma das piadas recorrentes da série reside na barreira da linguagem criada por Manuel. Essa incompreensão gera inúmeras peripécias que se tornam melhor conseguidas na segunda temporada. No primeiro ano da série, o foco dado aos traços característicos de cada um torna-se a certa altura exaustivo. Abusaram da regularidade do dito motivo. Cresceram na segunda temporada ao aprofundarem a dinâmica entre as personagens. Não deixa de ser curioso que tenha visto a série unicamente este ano, já em era Brexit, e que aqui se veja um rejeitar tremendo dos estrangeiros tal como virá a ser testemunhado daqui para a frente no mundo não fictício.

Cerca de 40 anos depois a série ainda consegue fazer rir o espectador mas a verdade é que muitos dos motivos para tais situações cómicas se encontram agora um tanto ou quanto envelhecidos. Certos valores da altura deixam de encontrar semelhantes cómicos na década actual. Basil Fawlty é conservador e preconceituoso. Reage negativamente a sexo fora do casamento e reage com instintiva surpresa quando se depara com um médico negro. Pequenos pormenores que são espelho de uma época e que nessa mesma deixaram congelar as gargalhadas. Não quer dizer que nas comédias actuais tais motivos não sejam usados. Modern Family, por exemplo, usa a sua Gloria (Sofia Vergara) para arrancar comédia da barreira da linguagem aqui encarnada por Manuel.

Se quiserem perder-se nos clássicos da comédia britânica “Fawlty Towers” é uma óptima sugestão. São apenas 6 horas do vosso tempo e garantem-se inúmeras peripécias hilariantes e uma boa dose de hóspedes excêntricos. Uma boa comédia física com auge em John Cleese. Um bom uso de cenários reduzidos para se contarem histórias.


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